Nosso adeus ao amigo Celso Fonseca
Celso adorava aproveitar o Centro e contar histórias de seus quase 40 anos de carreira como jornalista, sempre com leveza, bom humor e inteligência
Denize Bacoccina e Clayton Melo
Celso Fonseca é um amigo pessoal de muito tempo e um apoiador do A Vida no Centro desde seus primeiros dias. Já era um morador da região fazia alguns anos quando viemos para cá. Ele se mudou com a mulher, Debora Súconic, para a Avenida São Luís, num apartamento lindo e cheio de obras de arte, discos e livros.
Em 2018, quando fizemos nosso primeiro vídeo sobre como era viver no Centro, compartilhou com nossos leitores e seguidores o amor que tinha pela região, neste vídeo aqui. Trazia o olhar de quem estava atento aos detalhes, o eterno repórter em busca de descobertas.
Há um mês, para nossa alegria, aceitou um convite feito anos antes para colaborar com o A Vida no Centro e compartilhar suas dicas e seu amor pelo Centro de São Paulo. “Vamos tomar um café semana que vem? Queria começar a colaborar de algum jeito”, disse. Almoçamos no dia seguinte, na Galeria Metrópole, e, horas depois, ele enviava o primeiro texto do blog Caleidoscópio.
Falava de uma “lenda urbana” sobre o Centro de São Paulo: criminosos que ficariam escondidos, veja só, em árvores para atacar transeuntes. E dava dicas de um sebo e de um bar brechó perto da Praça Roosevelt. Estava feliz por compartilhar suas ótimas dicas com nossos leitores – e nós ainda mais por tê-lo como colaborador.
Nos últimos meses, depois de se aposentar no fim do ano passado, Celso dizia que estava feliz por agora finalmente ter mais tempo livre para aproveitar tudo o que o Centro tem de melhor e que ele, como um apaixonado por cultura, apreciava: ir a livrarias, cafés, cinemas, descobrir novas lojas de discos (ele adorava os bolachões) ou simplesmente caminhar e curtir a cidade numa boa.
Celso Fonseca era um grande jornalista e teve uma carreira brilhante nos quase 40 anos em que exerceu a profissão em redações. Como ele descreveu na introdução do blog: “Sou jornalista desde o tempo do onça, do telex, do fax e do mundo analógico. São perto de 40 anos de profissão nas maiores e mais extravagantes redações, da imprensa local, nanica, aos grandes veículos, entre aventuras, sofrimentos e recompensadoras alegrias. Assim foram passagens em jornais locais em Jundiaí, Campinas, Jornal da Tarde, revista IstoÉ, revista Brasileiros, portal R7, entre tantos veículos.”
Boa parte dessa carreira ele passou em editorias de cultura, escrevendo especialmente sobre música. Entrevistou muitos dos grandes artistas brasileiros e os estrangeiros que passaram pelo país. Nas vezes em que o recebemos em casa, nas festas e reuniões com amigos, Celso sempre tornava o ambiente ainda mais leve, agradável e divertido.
Uma conversa com ele era sempre uma aula de cultura brasileira, compartilhando detalhes dos bastidores de entrevistas, sempre trazendo informação, contando situações engraçadas, trazendo conhecimento sem nenhuma arrogância – está, aliás, era de uma de suas características: não se vangloriava. Não contava vantagem. Celso era simples e generoso – e muito culto.
Celso nos deixou nesta terça-feira, dia 27 de maio, depois de um infarto que o apanhou quando caminhava pela Rua 7 de Abril, a poucos quarteirões de casa. Deixou uma legião de amigos. Pessoas com as quais trabalhou desde o início de carreira até jovens que chefiou em trabalhos mais recentes, como no R7, portal em que trabalhou nos últimos dez anos, atuando como editor-chefe.