Capela dos Aflitos passa por restauro; conheça a história

Capela dos Aflitos foi construída em 1749 e nela eram sepultadas pessoas escravizadas, indígenas, pobres e condenados à morte.

A Capela de Nossa Senhora das Almas dos Aflitos, na Liberdade, em São Paulo, completa 246 anos nesta sexta, dia 27 de junho, em obras. O fato não é motivo de preocupação, mas de comemoração. Depois de muita reivindicação de grupos dedicados à preservação da história da capela e do bairro da Liberdade como um todo, as obras foram iniciadas em 7 de abril deste ano, com previsão de conclusão no primeiro semestre de 2026. Além da conquista, também é comemorado na ocasião os sete anos da União dos Amigos Capela dos Aflitos (Unamca), criada em 27 de junho de 2018, com o objetivo de preservar o local e sua história.

“Na Capela, a Unamca faz um trabalho de preservação de memórias tanto indígenas, quanto negras e busca levar, através da educação patrimonial, esse conhecimento para a população, para que se empoderem dessa questão e valorizem esse lugar, dando a devida importância, porque faz parte de um período extremamente importante da nossa história”, diz Eliz Alves, diretora do coletivo Unamca, entidade que hoje centraliza as lutas pela preservação da Capela.

Foram investidos mais de R$3,2 milhões para que as obras começassem e, desde então, o telhado já foi trabalhado, o revestimento das paredes também passam por transformação, o velário, que sofreu modificações, foi desfeito e será feito um novo, e a loja, a sacristia e o banheiro estão em processo de restauração, assim como a fachada, que será refeita.

Em 2024, a causa recebeu R$ 2 milhões por meio do edital do Proac, da Secretaria de Cultura, Economia e Indústria Criativas do Governo de São Paulo e do Ministério da Cultura, pela Carollo Arquitetura e Restauro, em parceria com a Unamca, mas não foi suficiente. Neste ano, a Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa, liberou R$ 1,2 milhão à Mitra Arquidiocesana de São Paulo, proprietária e administradora da capela, que possibilitou o início do processo de restauro.

Fachada da Capela dos Aflitos antes da reforma que começou em 2025. Foto: Divulgação

História

A Capela dos Aflitos foi construída em 1749, dentro do Cemitério dos Aflitos, inaugurado quatro anos antes, em 1775. Nele eram sepultadas pessoas escravizadas, indígenas, pobres e condenados à morte, que eram executados ou enforcados, no Largo da Forca, atual Praça da Liberdade.

Durante os anos, a Capela dos Aflitos recebeu várias intervenções, por exemplo, em 1779, quando foi inaugurada, o espaço era menor e mais tarde expandiu. Em 1890, passou por uma grande reforma, assim como em 1960.

Em 1994, o restauro foi necessário após o incêndio que não se sabe o motivo, mas acredita-se ter sido causado pela parte elétrica. A restauração começou em 1995, mas não foi concluída.

Porta da Capela dos Aflitos

No decorrer dos anos a situação da capela se agravou, até que em 2018, a construção de um prédio ao lado danificou a estrutura do local, causando rachaduras nas paredes e fazendo o telhado ceder, causando infiltrações. No mesmo ano, a Unamca surgiu para cuidar da zeladoria da capela e requisitar os recursos necessários para a restauração. A obra do prédio foi interrompida, dando início a um novo processo de ressignificação da área, com criação do Memorial dos Aflitos, projeto que terá novo concurso lançado em breve.

Na Capela dos Aflitos, se tornou tradição bater três vezes na porta e colocar um bilhete com pedido para Chaguinha. Foto: Divulgação

Chaguinha, o ‘santo’ da Liberdade

O cabo do exército Francisco José das Chagas, conhecido como Chaguinha, foi um dos executados na Praça da Liberdade, acusado de ser um dos principais articuladores da revolta nativista de 1821.

Mais tarde, Chaguinha passou a ser considerado um santo popular. Antes da execução, ele ficou preso dentro da Capela dos Aflitos, e, até hoje, na porta do velário que foi preservada, as pessoas batem três vezes e deixam bilhetes com pedidos para o santo. Também é uma luta da comunidade fazer Chaguinha ser reconhecido como santo pela igreja católica.

Leia também: Chaguinhas, Moise e os Aflitos