Tamanduateí, uma história de desamor
Tamanduateí: rio de tamanduás verdadeiros, “tamanduá eté y” ou rio de ocorrência de tamanduás: “tamanduá tyb y” em tupi
Vera Lucia Dias
Rio de tamanduás verdadeiros: “tamanduá eté y” ou rio de ocorrência de tamanduás: “tamanduá tyb y” em tupi.
Onde está o rio, onde estão suas águas, quais águas, lágrimas? Onde indígenas por ele passavam, dele se alimentavam, nele brincavam e o denominaram. Tantas voltas deu, tantos peixes que secaram, e muitas roupas lá foram lavadas.
Marcou a Baixada da região central na cidade de São Paulo e trouxe embarcações para a ladeira do Porto Geral. Recebeu como herança desatinada pontes, cimento, escuridão, dejetos, canos escuros. Mudaram seu curso, mancharam o riozinho suave.
Brilhava e avançava no tempo das cheias, dezembro a fevereiro. Depois no baixo movimento das águas, via peixes secando, via formigas (ysá) a devorar os peixes (pira), o nariz do mamífero tamanduá a buscar as tais formigas, daí “rio de tamanduás”. Onde estão?
Recebeu até uma ilha, a Dos Amores. Seu dasague é no rio “verdadeiro” ou “por excelência” = o Tietê.
Nascendo na Serra do Mar, em Mauá, o Tamanduateí passa por Santo André e São Caetano, recebe a foz do Anhangabaú e juntos desaguam no Tietê.

A partir de 1848 começam a roubar suas curvas. Os portos próximos ao Centro eram Figueira, Tabatinguera ou Porto Geral. Pelas proximidades da rua 25 de Março ficava até a charmosa Ilha dos Amores. No início do século 20 sua segunda destruição de curvas roubando várzeas e afastando de suas águas os barcos, as casas, o olhar e uso das pessoas.
Local de entrada da cidade para quem vinha do Rio de Janeiro. Mudaram seu lindo traçado e suas áreas verdes. Usaram o discurso da higiene, focos de lixo, doenças e epidemias; então vamos canalizar, vamos não ver, passaremos veículos sobre essas águas. Esquece a beleza. Que não venham mais inundações, sua calha será uniforme e mais profunda. Dos anos 1930 a 1959, a bacia do Tamanduateí foi tamponada por 29,8 quilômetros para dar lugar a avenidas.
Nos perdoe, Tamanduateí!
Fontes:
Diário Grande ABC
Open Edition Journals “A cidade de São Paulo e seus rios: uma história repleta de paradoxos”
Revista USP
Wikipedia
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